sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Motivo para Continuar

Raras vezes vejo o mundo ensolarado, fulgurante como as propagandas de viagens indicam, o mundo não me parece uma aventura, mas sim uma lenta escada rolante, vagarosa, com pessoas nervosas a frente e atrás, envolvidas no mais autentico fog londrino.

Cartazes e outdoors passam por mim, deslizando com seus fachos de néon, me iludindo, criando necessidades, desejos, que não são meus, que desconheço totalmente alem das suas cores brilhantes e aparência superficial, minhas mãos tremulam ainda que firmemente presas aos corrimãos, impedindo e me protegendo de qualquer risco.

Não me aventuro a dar um passo adiante, pois teria que trombar com pessoas que me olhariam feio e me reprimiriam por quebrar as regras, então apenas abaixo minha cabeça, e todos continuam a olhar os cartazes enquanto meus olhos apenas deslizam por meus próprios sapatos e pelas sujeiras incrustadas com o tempo nas entranhas do metal estéril da escada.

Me pergunto então por que vale a pena viver a vida assim, por que essa sombria e sem possibilidades história pessoal vale a pena e eu respondo, a mim mesmo, sem muita força, mas com tremenda convicção:

- A vida não é esta escada rolante que na maioria dos momentos eu vejo isso é apenas a auto-piedade intrínseca do meu ser, e o choramingo inócuo de quem não quer correr os riscos e conhecer o que existe alem. Sim os lugares brilhantes existem, a prova deles é o simples fato de que a monotonia do cotidiano tem seu contraponto ou não seria monótona, seria apenas a única coisa que poderia ser.

Alem disso eu só conheço essa melancolia, pois e algum momento houve algo diferente e por mais que meu raciocínio patologicamente cientifico me diga que eram ilusões eu sei que existe algo de real nelas, pois mesmo os sentimentos ilusórios tem algo de real, pois existem pra quem os fantasia.

E por fim existem os outros que me rodeiam que não são apenas seres cinzentos e opressores a minha frente e atrás, mas existem pessoas por todos os lados, algumas próximas o bastante pra me aquecer e brilhar alem da névoa e dar algum sentido a palavra viver, e me fazer pensar que a melancolia, a dor e o sofrer fazem parte da vida como um ótimo contraponto de sentimentos como alegria, amor e tantas outras tão bem disseminadas em literatura.

E essa voz, que vem não sei de onde, mas que me lembra, com maturidade das célebres palavras de Bill Watterson através de seu interlocutor Calvin – Pare de Choramingar e Vá Fazer algo de sua vida – trazendo assim um sorriso que consegue irromper ao menos suavemente em meus lábios e arrisco o próximo passo, pois nunca se sabe quando a escada chegara ao final e o nevoeiro sempre se dissipa com os raios de sol...

Um comentário:

Ginê disse...

Estou aqui, como vc...
Lutando contra a escada... brincando e levando no riso os capotes da vida... e assim seguimos... tentando ver o sol, ou simplismente procurando oq ainda existe dele dentro de nós...