segunda-feira, 22 de setembro de 2008

223 Anos de Sodoma

Hoje pensamos a revolução francesa e no iluminismo como um marco distante do inicio da sociedade com a conhecemos, uma história controversa cheia de luta, sangue e filosofia, quando os homens perderam algo para quem rezar e se converteram a Deusa Guilhotina. A Deusa que não decapitava e sim convertia, separando a cabeça do corpo, o racional do emocional, o corpo jogado fora e a cabeça exibida em praça publica, mais uma que agora desprovida de coração pertencia ao ideário da revolução, uma metáfora muito mais severa do que a maioria que possamos imaginar.

Sade pensava sobre a época em que vivia, seu corpo preso na Bastilha, e seus pensamentos presos no Châteaui de Silling, junto ao Duque, ao Bispo, o Juiz e o Banqueiro sobre como seria um mundo "...Sem lei e sem religião, a quem o crime encantava, e onde todos os interesses recaem sobre as paixões...e não existe nada a obedecer alem dos decretos de suas paixões perfidiosas..." .

Texto interessante, temido e proibido em diversos lugares por suas aberrações aos olhos mais sensíveis e mesmo para muitos dos mais resistentes, ele trazia todo o horror de homens sem lei, sucumbindo ao mais profundo da devassidão, onde a moral e a ética não se fundamentavam e pouco a pouco cada degrau do desejo era galgado e com isso cada pedaço da moral se estilhaçava.

Uma obre genial ao meu ver, nem tanto por sua capacidade de causar repulsa ou de quebrar as leis da sociedade, mas alem disso, existe uma critica inversa aqui, uma critica profunda e silenciosa, uma critica que vinha do sangue que escorria dos cadafalsos e guilhotinas, uma critica ao que a própria revolução defendia.Do próprio iluminismo que pretendia com sua critica acabar com as superstições do passado.

Quando olhamos para as idéias daquela revolução gloriosa, podemos pouco nos refletir nela, ela defendia idéias que hoje parecem tão comuns, tão basicas que as tomamos como certas e sem nenhuma periculosidade, por mais que raramente sejam empregadas. Nessa objetividade de propostas recaia um perigo terrível, um perigo pelo qual o homem em sua história,des dos primórdios de suas tribos nunca correu, o perigo de viver sem um por que, sem uma moral, sem uma busca de algo maior, uma liberdade a qual o homem não esta preparado, a de ser livre de sua própria consciência e apenas servir ao seu raciocínio, sem nenhum tipo de grilhão que lhe segure as permissões.

Assim como o Homem Invisível de H.G. Wells ele se despe de toda veste mortal, de todo papel, de todo impedimento, e como os personagens dos 120 dias de Sodoma, eles se revelam e ao longo dos meses vão galgando o mais horrível que o ser humano pode demonstrar. Não por que sejam "maus" ou perversos, mas apenas por que não existe nada que os impeça.

Se torna importante observar a era do racionalismo e da ciência que o dito Iluminismo trouxe quando chegamos finalmente ao dilema ético do grande Por Que???Se é que ele existe, um por que fazemos qualquer coisa que seja socialmente aceitável, correta, ou "bondosa" e não simplesmente sucumbimos ao nosso desejo.

Os homens de Sade sucumbiram para nos mostrar onde o vazio pode nos levar, não sou moralista ou religioso, mas no tempo de questões no uqal vivemos, onde os por ques se diluem a cada segundo, precisamos olhar aqueles homens, a perspectiva racionalista, a Ilustração, e nos perguntarmos até onde queremos ir, até onde vale a pena, o que vale a pena, e o que é ser humano, ou melhor o que nos torna seres humanos e permite que vivamos como tal. Antes que paremos de questionar e simplesmente sigamos sem pensar por onde, obedecendo a uma cabeça sem corpo, um raciocínio puro onde não há sobre o que raciocinar alem de como cumprir as paixões que o corpo pede.

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